domingo, 29 de junho de 2014

SER PROFESSOR E NÃO LUTAR É UMA CONTRADIÇÃO PEDAGÓGICA


Transcrição das falas de Eduardo Galeano no Documentário "Granito de Arena":

Eu digo que não nos preocuparmos por fazer uma educação de acordo com as condições e necessidades do povo, também é fazer o jogo do império. Então, ainda que nas marchas digamos “não à privatização, não ao neoliberalismo”, em nosso trabalho educacional estamos muitas vezes contribuindo para o avanço desses processos. Mas se realmente mudarmos, podemos também como professores ganhar o apoio da comunidade. Não para nossa luta, mas para apoiar a luta dos povos. Porque no fundo é isso que deve acontecer. Se nós somente quisermos apoio para a luta magisterial, então iremos estancar. Por que não revertemos o papel? Temos que aprender deles se queremos apoiar seus processos naturais de desenvolvimento, se queremos apoiar seus processos de autonomia, se queremos que a educação não seja algo imposto, mas sim algo que propicie o desenvolvimento de sua própria cultura. Há um velho provérbio que diz que melhor que dar o peixe é ensinar a pescar. Mas o que acontecerá se venderem o rio? E se envenenarem o rio? E de que adianta saber pescar se o dono do rio não permite a pesca? Ou seja, a educação está inevitavelmente, fatalmente vinculada a todos os aspectos da vida. Culto não é aquele que acumula mais conhecimento. Culto é o que melhor aprende a se entender com os demais. Culto é o que melhor aprende a recriar um mundo no qual o próximo seja uma promessa, e não uma ameaça. No qual posso reconhecer no outro alguém com quem posso ter comunhão, com quem tenho coisa a compartilhar, alguém que tenha algo a me dizer que vale a pena escutar. Há uma globalização econômica, uma globalização política, também devemos fazer uma globalização de solidariedade. A resposta é, de fato, uma resposta coletiva, ou seja, implica na mobilização de uma solidariedade social que cruze fronteiras. E é isso que os professores mais tem feito. Estão se mobilizando através de fronteiras. Creio que também é muito importante romper as barreiras, porque se estamos enfrentando um mesmo monstro, mas talvez com muitas cabeças, temos que confluir em uma mesma corrente. E se os professores não lutarem pela educação pública, suponho que a pergunta seja, “então quem o fará?”. [Granito de Arena - 2005]

Ver vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=CbnTYsTlbDc