sábado, 17 de setembro de 2011

Questões sobre História Contemporânea - OSWALD, Tamara

1. Em relação ao texto Século XX: uma biografia não autorizada de Emir Sader comente como o século se anunciava, ressaltando a questão capitalismo/socialismo.
Emir Sader em seu texto Século XX: uma biografia não autorizada diz que havia indícios, desde final do século XIX, de que o socialismo passaria a fazer parte da agenda política do século XX e afirma: “O século XX se anunciava como um século do socialismo e terminava com a consolidação da hegemonia do capitalismo, e em sua forma mais selvagem – ideologia norte-americana, neoliberalismo econômico, dominação do capital especulativo, do consumismo, do egoísmo, da predação ambiental.”

Segundo ele, um dos indícios era a evolução do capitalismo. A era do capitalismo liberal havia dado lugar à fase imperialista, onde as potências (Inglaterra, França, Rússia, Alemanha, EUA e Japão) passaram a disputar entre si tanto no setor econômico quanto no militar, a repartição do mundo. Havia, conseqüentemente, uma grande possibilidade de enfrentamento militar. Ao mesmo tempo, as guerras coloniais da segunda metade do século XIX, haviam feito aflorar um sentimento nacionalista que tornaria mais complexa a dominação colonial e imperialista. O liberalismo e suas contradições geradas pela revolução industrial, fez com que o socialismo e o capitalismo ficassem frente a frente, anunciando um duelo de gigantes, e as próprias contradições do capitalismo tornariam esse sistema limitado.
Sader fala também da contradição existente, pois era um século previsto como do socialismo, mas combinou desenvolvimento tecnológico com concentração de renda e também o debilitamento dos laços de sociabilidade com hegemonia dos grandes meios audiovisuais de caráter monopólico, traços do sistema capitalista. Segundo Hobsbawn, a batalha dos sistemas capitalista/socialista ficou personificada pelo enfrentamento dos EUA/URSS.
Para concluir, o autor diz que ao contrário do que se supunha, a história do século XX acabou por ser a história do capitalismo. Também diz que uma das lições do século XX é que não há um destino pré-determinado na história humana. Os sistemas capitalista/socialista estão em transição, onde é equivocado dizer que humanidade caminha para o socialismo, assim como é equivocado dizer que a humanidade está condenada ao capitalismo. Tudo dependeria de como o homem deseja fazer a história a partir das condições culturais e materiais que encontra.

1.a. Qual o papel da Inglaterra no início do século XX? Foi um começo com paz para os ingleses?

O século XIX, havia sido para a Inglaterra um século promissor, de sucesso econômico e grande expansão. Já no início do século XX, a Nigéria era incorporada como protetorado britânico. Mas na África do Sul, a situação era tensa: Os britânicos travavam a Guerra dos Bôeres, em disputa com os colonos holandeses, emigrantes alemães, escandinavos e protestantes expulsos da França. A anexação do Transvaal havia sido motivo de descontentamento dos bôeres, que se rebelaram contra um comboio militar britânico. Era a guerra de uma potência imperialista contra a reação à sua dominação. Apesar da nomeação de um novo chefe de comando para forças britânicas na África do Sul, os britânicos sofreram várias derrotas. A guerra que estendeu-se por um longo tempo tem seu fim anunciado pela imprensa em setembro de 1900, e acabava por ser a mais custosa para os ingleses: as notícias eram de 11 mil soldados mortos pela guerra e doenças na África do Sul. Logo após a divulgação das baixas de guerra, afirma-se ao contrário dos noticiários, que os combates continuavam e a Inglaterra envia mais de 30 mil homens para a região do conflito.
Depois de vários conflitos, em 1902, os bôeres se renderam e os britânicos puderam celebrar a vitória. No entanto, o saldo de perdas na guerra anunciava os sinais da decadência da Inglaterra. Apesar disso, a guerra dos Bôeres e as dificuldades britânicas diante dela não foram grandes referências nos livros de História, que deram maior ênfase à morte da rainha Vitória como evento maior da passagem do século.

Em relação ao papel da Inglaterra no início do século XX, pode-se dizer que esta, juntamente com os EUA, a Rússia, a Itália e o Japão, enviou tropas para a China para disciplinar a rebelião dos “punhos fechados” ou “boxers”, (chineses nacionalistas e praticantes de artes marciais) que ameaçavam a vida dos estrangeiros residentes que estavam sofrendo constantes ameaças. Em julho os aliados invadiram Pequim. Em outubro de 1900, a Grã-Bretanha juntamente com a Alemanha compromete-se com a manutenção da política de portas abertas na China. Em 1902, é a vez de o Japão assinar um acordo com a Grã-Bretanha para defender os interesses dos dois países na China e na Coréia. Com a ascensão dos EUA, a Inglaterra assina com os norte-americanos um acordo para a construção de um canal centro-americano passando pela Nicarágua.
Podemos dizer que o início do século XX foi um século que demonstrou a fragilidade da Inglaterra perante suas zonas de influência e perante as novas potências imperialistas que surgiam no horizonte capitalista.

2. No que se refere à Revolução Russa de 1917 disserte sobre a organização político-partidária na Rússia anteriores a 1917 e sobre qual o papel da burguesia.
Através da leitura do texto de Marc Ferro, “A Revolução Russa de 1917”, podemos afirmar que os revolucionários russos estavam divididos entre si desde 1905, mas o povo possuía ódio dos seus dirigentes e desejavam derrubar o tzarismo. Quanto às organizações revolucionárias, primeiramente elas eram divididas em ocidentalistas e eslavófilos. No século XIX, os marxistas defendiam a fase do capitalismo e os populistas queriam a passagem direta ao socialismo: “Essas divergências tinham graves implicações sobre o plano de ação; para os marxistas, o futuro da revolução repousava na classe operária em formação; os populistas contavam com os camponeses, já iniciados no socialismo graças à existência de instituições de caráter coletivo, como o mir. Os marxistas deixaram o movimento Narodnaja Volja assim que lhes pareceu terem fracassado completamente os métodos específicos russos como o terrorismo, o movimento em direção ao povo. Daí por diante cada facção iria seguir caminho diferente (1883).”
Em 1905 se constituem duas novas organizações socialistas: os social-democratas e os socialistas-revolucionários. Os revolucionários estavam confusos com as incertezas sobre a formação de uma classe operária, o desenvolvimento do capitalismo na Rússia e a questão da burguesia que deveria fazer o combate político para derrubar o tzarismo. Para o partido social-democrata a classe operária deveria ser educada e preparada para a revolução.
A unificação desses revolucionários era imprescindível, tanto que Lenin escreveu “Que fazer?”, uma obra que determinaria o futuro do movimento operário. Deveria ocorrer uma unificação e um aumento nos efetivos para criar uma maioria que tomasse o poder na Rússia, ao mesmo tempo em que deveria constituir-se um partido de revolucionários profissionais. Em 1903 a maioria dos partidários se constituía numa formação política separada, os chamados “bolcheviques”, enquanto L. Martov e P. Axelrod tornaram-se líderes da minoria denominada “mencheviques”. Mais tarde, as concepções de Lenin trariam a divisão dos partidos marxistas em socialista e comunistas.
Em 1905, bolcheviques e mencheviques tiveram divergências na organização do partido social-democrata e nos seus objetivos e táticas. Essas divergências foram se agravando até 1917. Os bolcheviques desejavam um governo provisório para promover uma ditadura revolucionária e democrática do campesinato, etapa necessária, segundo eles, para a instituição de uma república socialista. As reformas de Stolypine haviam feito surgir uma classe de pequenos proprietários de terra, o partido socialista popular.
Os anarquistas também se dividiam em grupos rivais, com interpretações de ensinamentos de Bakunim e Kropotkine, e condenavam os partidos políticos. Militavam no meio de sindicatos e cooperativas.
Com a 1ª Guerra Mundial, houve nova divisão entre os revolucionários, boa parte dos mencheviques defendia a guerra, ao mesmo tempo em que parte dos mencheviques, anarquistas e bolcheviques, internacionalistas, condenavam a guerra.
Quanto ao papel da burguesia, esta possuía um histórico de debilidade pois não foi capaz de fazer as reformas necessárias para que o país pudesse se democratizar, modernizar e se desenvolver economicamente. A Rússia ainda possuía vestígios do feudalismo, era metade império e metade colônia. Ao passo que era necessária uma ação revolucionária auxiliada pela burguesa para promover a mudança de regime pela luta contra o tzarismo. Ao mesmo tempo em que a burguesia necessitava desse impulso para desenvolver a economia e lutar contra o regime, ela tinha medo da revolução.

2.a. Faça comentários sobre as seguintes passagens:

“Pouco a pouco, a administração, impotente para frear o movimento, se via despojada de suas funções (...) todas as profissões se organizavam (...). Sem o saber, os russos começavam a governar-se.” (Marc Ferro)
Este trecho mostra claramente os processos que estavam acontecendo na Rússia antes da revolução. A população estava insatisfeita com o rei, com as condições de vida e com as perdas na guerra, ao passo que a burguesia, os profissionais e a população do campo e da cidade começariam a se organizar na tentativa buscar soluções e participação nas decisões do governo.
Nicolau II tinha aversão pelos negócios públicos, e para estes, contava com sua esposa Alexandra que gostava de política e era mais firme que o marido, porém era impopular, não tinha a confiança dos russos. O rei era, na verdade, um preguiçoso. Mandou atirar sobre o povo que havia se revoltado contra ele. A sociedade, insatisfeita, reagiu criando associações particulares de interesse público. Um dos grandes exemplos desse tipo de associação foi o comitê da Cruz Vermelha. Quanto às vitorias na guerra, essas eram indiferentes para a opinião pública. A burguesia mostrava vitalidade, o que levou o governo a olhar suas iniciativas com desconfiança. A administração havia perdido o poder para as organizações profissionais (industriais, médicos, estatísticos, etc.). Ainda não havia a consciência de uma revolução, mas os fatos demonstravam que ela estava próxima., pois o exército, os produtores e consumidores começaram a governar-se. A própria Duma começou a entrar em comitês e associações em 1914, tentando interferir nos negócios do Estado, mas Goremykine não aceitava esse tipo de ação. Para Miliukov: “Ou o governo nos está escondendo a verdade, e nesse caso está enganando; ou está cego, e isso é sinal de sua incapacidade.”. A Duma acabaria por ter papel importante na queda do regime.

“Decomposição acelerada das Forças Armadas. Poder na rua. Desagregação geral. Profundo cansaço. Desgaste generalizado. Tempo de radicalização. Foi-se a atmosfera do congraçamento de fevereiro, em que era possível sonhar num futuro risonho e fraternal. Agora é fratura em vez de continente. Divisão no lugar da harmonia. Caos e não ordem.” (Daniel Aarão)
A passagem acima descrita demonstra claramente todo o processo da revolução de 1917, o ano que ficaria conhecido como o ano vermelho, num período que foi de fevereiro a outubro, quando inicialmente o governo cairia pelas mãos populares, e após oito meses de disputa de poder e conflitos, acabaria por ter seu comando tomado pelos Bolcheviques.
Em 1917, cinco dias de movimentos sociais em Petrógrado conseguiram derrubar a dinastia. Veio a Revolução. Uma revolução anônima, sem lideres ou partidos dirigentes. A palavra era concedida a todos que quisessem dela dispor. O poder saiu dos palácios e prédios públicos e se fragmentou. O governo provisório queria estabelecer a ordem para promover a reforma. O ano de 1917 seria um ano de contrastes. Em março foi realizado o primeiro congresso de camponeses na Rússia. Em junho os sovietes urbanos, soldados e operários realizaram seu primeiro congresso. Aumenta o número de agências administrativas. Em julho, os esforços foram para salvar os soldados na guerra, mas foi um fracasso, virando morticínio e debandada, e muitos ministros se demitiriam para livrarem-se das responsabilidades. Os bolcheviques são acusados de tentativa de golpe, então veio a crise de agosto. O governo procurou apoio nas forças conservadoras e convocou uma Conferência de Estado em Moscou, com uma minoria de deputados sovietes. Então os sovietes constituíram uma frente de defesa da revolução reabilitando os bolcheviques, que pareciam liquidados, ao mesmo tempo em que o movimento camponês invadia e tomava terras. Então o governo tentou a última cartada: a Conferência Democrática ou pré-parlamento
Os sovietes, descontentes e exigentes, com o apoio popular, deveriam assumir todo o poder: era o processo de bolchevização. Finalmente o marxismo havia triunfado, e os bolcheviques tomariam as rédeas da revolução.

3. “Em menos de um ano, a Espanha avançara mais no caminho da modernidade do que em dois séculos anteriores. No entanto, rápidas mudanças em período tão curto causaram profundos traumas na tradicional estrutura da sociedade.” (Francisco Salvadó)
Com a sua opinião explique se você concorda com a afirmação do autor, e com base na citação explique o que não deu certo no período republicano espanhol que acabou levando-os a uma guerra civil.

Com base na leitura do Texto “A Segunda República, uma breve experiência de democracia”, posso afirmar que o período republicano espanhol, definido pelo autor como “Lua de Mel”, sem dúvida foi um período de grandes mudanças em relação aos séculos anteriores, mas como ele mesmo explica, a república foi proclamada num período de dificuldades no mundo, num momento ruim, onde as condições externas aliadas as dificuldades internas acabariam por retratar o insucesso deste processo, que não pode se desenvolver de forma que satisfizesse os espanhóis.
Foram feitas diversas propostas de reformas, que muitas vezes não foram colocadas em prática por falta de recursos financeiros. A república reformista era mal vista pelas classes ricas, pelo exército e pela Igreja, pois ameaçavam sua hegemonia econômica e social, e isso acabava por inviabilizar a implementação da legislação, já que o poder econômico e social permanecia nas mãos das estruturas tradicionais.
Apesar disso, agora o Estado estava nas mãos de uma nova classe governante, que tinha por objetivo imediato destruir os laços monarquistas e eclesiásticos que transformava os espanhóis em “súditos” ao invés de “cidadãos”.
Muitas reformas foram realizadas, e sem dúvida, uma das principais foi tirar das mãos do Clero a educação pública. Mas apesar desse avanço cultural, o que o povo necessitava com mais urgência era de pão e trabalho. Os republicanos também queriam transformar as Forças Armadas em uma instituição obediente ao Estado, que fosse defensora da ordem constitucional da Espanha. O Psoe preocupava-se com a questão social, melhorando os salários e as condições de vida dos trabalhadores. O salário real chegou a subir 16%, e agora, os trabalhadores teriam direito a greve sem colocar em risco seus empregos. A terra também deveria ter seu cultivo obrigatório.
Essas e outras reformas rápidas levaram ao descontentamento tanto por parte do Clero, que se viu ameaçado diante dos Republicanos que o confrontavam diretamente, das Forças Armadas, que queria ser uma instituição independente, dos donos de negócios, que se viam ameaçados, pois os lucros eram baixos e os salários eram altos, e dos proprietários de terra, que viam-se obrigados a contratar trabalhadores estrangeiros pois a mão-de-obra nacional estava extremamente cara. Todas essas condições acabaram por levar a Espanha à uma Guerra Civil, pois as reformas haviam sido feitas de forma muito rápida e brusca e os partidos republicanos ainda eram frágeis, resultando na instabilidade política.

4. Daniel Aarão salienta que depois de Staligrado a Segunda Guerra tinha mudado de rumo: “O começo do fim da besta nazista”. Por que? Qual a interpretação do autor em relação a participação da URSS na guerra?
Segundo Aarão, a batalha de Stalingrado foi o maior entrevero da Segunda Guerra Mundial. Não havia sido um enfrentamento entre dois exércitos regulares apenas, ou entre duas propostas de sociedade, mas foi uma guerra pela sobrevivência. Os russos, que já haviam lutado contra as forças nazistas em Leningrado e em Moscou, de uma forma heróica, tendo suas cidades em ruínas e sua população dizimada, agora davam o sangue para defender Stalingrado. Se perdessem Stalingrado, os russos sabiam que estariam perdidos, ao passo que os alemães, em caso de derrota, teriam que voltar à Berlim sem retorno, conhecendo o outro lado da moeda, que estavam acostumados a oferecer aos povos que dominavam. Na batalha, ambos os lados utilizaram todos os recursos disponíveis. Milhares de homens, mulheres e crianças transformando a cidade num verdadeiro inferno: chamas, fumaça, fedor, explosões ensurdecedoras. Cada casa, fábrica e terreno era motivo de disputa, conquista e reconquista. Até mesmo os animais haviam fugido da cidade, restando apenas alemães e russos. No início de 1943, quando os russos finalmente venceram, fizeram cem mil prisioneiros alemães, além de se apoderarem de armamento e munições. Depois de Stalingrado, em julho de 1943, a nova batalha adentrou às linhas alemães, o arco de Kursk. Enfrentaram-se até a exaustão, até que os russos venceram novamente, destruindo as últimas ilusões de um triunfo nazista. Depois de Kursk o exército soviético transformou-se numa espécie de rolo compressor, avançando estrategicamente para reconquistar seus territórios: Sebastopol que levara 220 dias para cair, foi reconquistada em apenas 5 dias. Já era clara a fragilidade nazista. Depois veio a penetração russa na Romênia, e nos países da Europa Central. Em agosto os Russos já estavam na Prússia Oriental, território Alemão. Em 1945 os alemães que já haviam perdido Berlim, acabaram por render-se perante os Aliados. Apesar da coalizão formada para acabar com os nazistas, o país que havia suportado por mais tempo o fardo da guerra era a URSS. Sem dúvida, a vitória russa na batalha de Stalingrado foi decisiva, em termos psicológicos e de perda de contingente e armamento, para o começo do fim da besta nazista.
Para Daniel Aarão, apesar de haverem várias interpretações sobre que nação foi decisiva para o final da Segunda Guerra Mundial, a maioria salienta a ação dos Aliados e esquece de que a resistência soviética acabou por ser além de decisiva, após anos de resistência que culminou na grande vitória em Stalingrado, catastrófica para aquele pais, que sofreu com a perda de mais de 20 milhões de habitantes e acabou por trazer outras perdas, tanto materiais quanto econômicas, que levariam o país à crise. A vitória havia sido conquistada a um custo extraordinariamente elevado para a URSS.

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