sábado, 5 de junho de 2010

O Caudilhismo

Este trabalho foi apresentado na Disciplina de História da América II. Espero que gostem...

O CAUDILHISMO

INTRODUÇÃO:
         O Conceito Caudilhismo vem sendo discutido e investigado por historiadores ao longo dos anos, muitas vezes, é associado ao Caciquismo e ao Coronelismo, todos os três representados pelo poder e prestígio de chefes políticos locais. No dicionário, Caudilhismo é definido por s. m. Processos de Caudilho, e Caudilho por s. m. Chefe militar; cabo de guerra”. Entretanto essas duas nomenclaturas possuem uma definição histórica bem maior, que a seguir será exposta de uma forma clara e abrangente, buscando resgatar da melhor forma seu completo significado.

ANTECEDENTES:
         Para definir aquilo que foi denominado Caudilhismo, torna-se necessário resgatar alguns acontecimentos que antecederam o Regime Caudilhista na América Latina. Em primeiro lugar, devemos lembrar que a partir do momento em que as colônias começaram a tornar-se independentes da metrópole, as novas repúblicas latino-americanas estavam frágeis e instáveis, os problemas eram inúmeros: havia caos na administração (controle da administração por fazendeiros proprietários rurais, donos de enormes extensões de terra), crise econômica, conflitos armados, declínio na cultura e educação, além de uma população que era de maioria camponesa e analfabeta. É possível inclusive, comparar as novas repúblicas latino-americanas com a Europa Ocidental após a queda do Império Romano do Ocidente, a partir do século III, pois havia territórios economicamente independentes, que eram baseados na auto-suficiência, semelhante ao sistema feudal primitivo. (CHALUPA, Jirí.)
        O Liberalismo e o Positivismo tiveram pouca influência na América Latina, pois a falta de uma burguesia estruturada eliminava as conquistas da doutrina liberal. Os liberais, na América Latina, assim se intitulavam somente para conquistar o poder, pois acabavam por serem centralistas como os conservadores. Nesse contexto estas peculiaridades sociais, econômicas e políticas, foram definitivas, na formação do fenômeno chamado Caudilhismo. (AQUINO, Rubim Santos Leão de.) Além disso, o individualismo espanhol também esteve presente nas raízes do Caudilhismo. No século XX, após as guerras de independência, também surgem diversos representantes caudilhistas, que intitulavam-se ditadores, porém não eram tiranos, pois defendiam seu povo da influência e intervenção estrangeira. (FAVROD, Charles Henri.).



CAUDILHISMO E CAUDILHOS:
         Visto isso, torna-se necessário mencionar que o regime caudilhista teve seus primeiros representantes a partir da época das independências das colônias Hispano-americanas e espalhou-se rapidamente por toda a América Latina: Argentina, Uruguai, Chile, Haiti, Peru Uruguai, México e até mesmo no Brasil, no Rio Grande do Sul, onde haviam estancieiros caudilhos e no restante do país, onde geralmente os líderes latifundiários eram chamados de coronéis e se impunham pela força e medo, diferenciando-se um pouco, por esta razão, dos verdadeiros caudilhos, que geralmente chegavam ao poder pelo carisma, mais do que pela própria força militar. Mas há controvérsia sobre essa questão, parecendo ser mais provável que na verdade, o Caudilho usasse uma combinação dessas táticas, e se consolidasse no poder pelo fato de representar “aparentemente” os interesses da população local que em grande maioria era totalmente despolitizada e sem o conhecimento da democracia.
         Os Caudilhos eram grandes fazendeiros e/ou proprietários rurais, donos das terras aráveis e das pastagens. Possuíam empregados, peões e um exército pessoal, pois além de grandes proprietários de terra também eram importantes chefes militares, organizando milícias que cuidavam da proteção das terras e dos “agregados” nessas terras (trabalhadores, peões, etc.) além de ser utilizadas muitas vezes para ameaçar o governo central, mantendo uma influência decisiva. Os chefes caudilhos possuíam prestígio por sua autoridade e poder de intimidação.
         Além do respeito pela sua autoridade militar, os caudilhos eram conhecidos por possuírem certo carisma. No Rio Grande do Sul, por exemplo, “O caudilho gaúcho teve seu poder reconhecido mais pelo consenso do grupo social do que pela força. Na segunda metade do século XIX, seu papel de chefe eleitoral tornou-se preponderante.” (GUAZELLI, César. Citado em Os Caudilhos no Rio Grande do Sul: Cadernos de História, Memorial do Rio Grande do Sul). Na verdade, talvez fosse esta a grande característica que fez do Caudilhismo um regime diferenciado: a capacidade que o caudilho possuía para dominar, como percebemos em um trecho de DOZER citado na obra de AQUINO:
O caudilho possui o dom natural de escravizar a vontade de outros homens e de arrastá-los consigo – à rebelião, à batalha ou mesmo por sobre um abismo. Ganha a afeição de grandes massas e converte-as no seu povo. Detém a confiança desse povo; torna-se o símbolo do seu prestígio; encarna a personalidade da Nação. (...) Agindo em nome do povo e afirmando reunir os interesses deste, justifica a sua ditadura.” (DOZER, D.M., op. cit, p. 245)

         Visto o contexto do surgimento do Caudilhismo e as características dos líderes caudilhos, é importante mencionar a existência de dois tipos distintos de Caudilhismo, o Liberal e o Conservador. O Caudilhismo Liberal (ou progressista) tinha o apoio das massas, pois procurava garantir o domínio das novas classes proprietárias de terra e defendia a modernização econômica obtida através do capital estrangeiro. O Caudilhismo Conservador tinha apoio de outros setores, mais tradicionais e conservadores como a Igreja e o Exército. Procurava manter as estruturas tradicionais e conter o avanço das massas e novas classes proprietárias de terra. (AQUINO, Rubim Santos Leão de.) Aos Caudilhos não interessava a instalação de um Estado centralizado, queria suas províncias independentes, porém, unificadas, onde cada chefe caudilho comandasse a economia e a política. Também procuravam combater uma massa de imigrantes vindos da Europa e interessados no comércio e no desenvolvimento de indústrias. Podemos ainda, citar as práticas do Caudilhismo, que geralmente propunham uma lógica diferenciada, entre civilização x barbárie, Unitarismo x Federalismo e cidade x campo.
         Para concluir, podemos dizer que o Caudilhismo foi na verdade um fenômeno que desafiava o Estado e se perpetuava através da força dos líderes locais e da capacidade de aceitação e contentamento das massas que apoiavam esses caudilhos.

OS GRANDES LÍDERES CAUDILHOS:
         Entre muitos dos líderes caudilhos que existiram, podemos dar destaque a alguns deles, principalmente por terem possuído papel definitivo como líderes na luta pela Independência, entre eles podemos citar:
·             Juan Manuel de Rosas na Argentina: Foi um dos principais (se não o principal) caudilhos na região platina, grande latifundiário da província de Buenos Aires. Governou de 1829 a 1852, combatendo as idéias liberais. Era representante de um ideal consevador-federalista e detinha o controle da navegação no Rio da Prata e do porto de Buenos Aires. Representava quase como um presidente as Províncias Unidas do Rio da Prata. Sarmiento ao escrever sobre Rosas criticava o Caudilhismo e classificava-o como barbárie. (LIMA, Camila Imaculada S., e NOGUEIRA, Gabriel Parente.). Juan Manuel de Rosas utilizou métodos de censura, intimidações execuções e banimento para realizar um dos seus primeiros objetivos que era pacificar a província de Bueno Aires. Empenhou-se também em fazer investidas contra os indígenas para proteger a fronteira, além de introduzir o ensino obrigatório da religião católica nas escolas e criar novos impostos para garantir um orçamento destinado a obras públicas. Com seu exército formado em maior número por peões, conquistou vastas extensões de terra, através de batalhas, diplomacia e negociações, garantindo novas fontes de renda (pastagens, água em abundância, etc.) para os agricultores. (CHALUPA, Jirí.).
·             José Artigas no Uruguai: Foi um chefe político e militar. Surge num contexto em que Elio, que era governador de Montevidéu entrou em guerra contra a Junta Revolucionária de Buenos Aires. Artigas então começou sua luta contra Elio. José Artigas era um importante negociante de couros e conhecia toda a região, isso deu-lhe certa facilidade de ação. Ele não admitia a permanência do domínio da Espanha sobre o Uruguai. Defendia o Federalismo como forma de governo e a autonomia das províncias: Fazendo referência, cito ABADIE num trecho da obra de RECKZIEGEL: O artiguismo defendia a idéia de coordenação autônoma das províncias, em contraposição ao preceito de subordinação centralizada proposta por Buenos Aires.” (ABADIE, Reyes.) Artigas participou das batalhas de San José e Las Piedras, contra os espanhóis e das batalhas contra os lusos-brasileiros: a de Catalán e a de Tucuarembó, onde acabou definitivamente derrotado, procurando asilo no Paraguai.
·             Simon Bolívar em toda a América Latina Espanhola: Bolívar foi um revolucionário que brigava pela reforma social e contra a política imperialista: "O novo mundo deve estar constituído por nações livres e independentes, unidas entre si por um corpo de leis em comum que regulem seus relacionamentos externos" (Frase dita por Bolívar, fonte: Wikipedia) Ele tentou promover uma integração continental, foi proclamado “libertador” ao liderar a invazão da Venezuela.
·             Justo José de Urquiza na Argentina: Foi governador de Entre Rios, a princípio apoiou e ajudou a sustentar Rosas no poder, porém, mais tarde, receoso por Rosas dominar as demais províncias acabou por rebelar-se contra ele. Fez melhorias na Educação, construiu ferrovias, organizou a nação sempre tendo como principal opositora a província de Buenos Aires.
        Além destes caudilhos, podemos citar outros, como Mariano Melgarejo, Antonio López de Santa Anna, Gaspar Rodríguez de Francia, Manuel Oribe, etc.









REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ANOTAÇÕES DE AULA. História da América - 6º semestre, 2009/10.
AQUINO, Rubim Santos Leão de., LOPES, Oscar Guilherme Pahl Campos., LEMOS, Nivaldo Jesus Freitas De. História das sociedades americanas. Rio de Janeiro: Editora Livraria Eu e Você, 1997.
BETHELL, Leslie (org). História da América Latina. Tomo III – Da Independência até 1870. SãoPaulo: Edusp, 2001. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/20282297/Bethell-Leslie-et-al-Historia-de-America-Latina-tomo-3-1984 (Consulta em 23/01/10)
CHALUPA, Jirí. El Caudillismo Rioplatense del Siglo XIX: Análisis del Caso Concreto de Juan Manuel Ortiz de Rosas (1793–1877). Acta Universitatis Palackianae Olomucensis. Disponível em: http://publib.upol.cz/~obd/fulltext/Romanica-8/Romanica-8_07.pdf (Consulta em 23/01/10).
FAVROD, Chales-Henri. L’Amerique Latine A América Latina. Tradução de ARAÚJO, António. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977.
HISTÓRIA, Cadernos de. Memorial do RS. Os Caudilhos no Rio Grande do Sul. Universidade Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Disponível em: http://www.memorial.rs.gov.br/cadernos/Caudilhos.pdf (Consulta em 23/01/10)
LIMA, Camila Imaculada S., NOGUEIRA, Gabriel Parente. A Formação do Estado-Nacional Argentino e a Construção da Identidade Nacional. Ceará: Ameríndia – UFC, 2006. Disponível em: http://www.amerindia.ufc.br/articulos/pdf1/gabriel.pdf (Consulta em 23/01/10).
RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti. A Instalação do Estado Nacional e as Tensões Fronteiriças: Uruguai e Rio Grande do Sul no período 1822-1851. Passo Fundo: UPF, Brasil. Disponível em: http://www.fee.tche.br/sitefee/download/jornadas/1/s2a1.pdf (Consulta em 23/01/10).
WIKIPÉDIA, A Enciclopédia Livre. Caudilhismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caudilhismo e Caudilho: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caudilho (Consulta em 23/01/10).







                                                      

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