sábado, 5 de junho de 2010

As Américas e a Civilização - Darcy Ribeiro

E para quem fez Brasil I no Curso de História da Ufpel, sabe que fichamentos são atividades rotineiras nessa disciplina. Abaixo posto um deles, do Darcy Ribeiro. As Américas e a Civilização.

RIBEIRO, Darcy. Estudos de Antropologia da Civilização. As Américas e a Civilização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. (p. 51 - 67)


Por: Tamara Oswald
Os processo civilizatórios e suas motivações:
- História do homem nos últimos séculos vista principalmente como a história da expansão da Europa Ocidental que, ao constituir-se em núcleo de um novo processo civilizatório, se lança sobre todos os povos em ondas sucessivas de violência, de cobiça e de opressão. (p. 51)
- Povos europeus antecipam-se em duas revoluções tecnológicas, a Mercantil e a Industrial, e colocam-se na vanguarda da evolução sócio-cultural. (p. 51)
- O renascimento visto como o momento dramático em que a civilização se revela ao próprio europeu que vê o mundo duplicado com a descoberta das Américas; Redefinição da concepção do universo. (p. 52)
- Interesse novo pelo saber empírico-indutivo, observação da natureza, compreensão da sociedade, experimentação científica e artes mecânicas. (p. 52)
- Os Ibéricos, povos peninsulares, se lançaram à expansão ultramarina, descobrindo, conquistando e subjugando os novos mundos e fazendo sacralizar pelo Papa a divisão deles entre Portugal e Espanha. Os russos, como povos continentais, entram a expandi-se sobre seu contexto euro-asiático. (p. 53)
- Antes do amadurecimento das formações capitalistas-mercantis, ocorreu outro processo civilizatório, o primeiro a proporcionar a ruptura com o feudalismo europeu e a emergência de uma nova formação sócio-cultural: a mercantil-salvacionista. Sua base tecnológica, promovida pela Revolução Mercantil, se assentava na navegação oceânica, nas armas de fogo, no ferro forjado e em outros elementos que liquidaram a cavalaria de guerra dominante desde há um milênio e permitiram desencadear um novo ciclo de expansão mercantil marítima.  (p. 54)
- A Europa (Espanha e Portugal) que se defronta com a América Indígena, era constituída por sociedades nacionais de base agrário-artesanal estamentadas. Sua cúpula era formada por uma hierarquia sacerdotal e não tanto por uma nobreza hereditária. A Igreja era a principal proprietária de terras, escravos e servos e da especialização guerreira de uma parte do clero como padres-soldados. (p. 57)
- Os ibéricos herdam e utilizam a tecnologia islâmica para a navegação e durante séculos lutam contra os sarracenos, essas foram duas motivações que levaram os iberos à luta pela conquista (p. 58)
- Os ibéricos ao se alçarem para a grande façanha, ainda se configuram como Impérios Mercantis Salvacionistas e não como formações Capitalistas Mercantis. Mesmo ao término do ciclo mais brilhante de sua história não conseguem alçar-se à modernidade, nem ingressar-se na revolução industrial. (p. 58)
A Ibéria promove missões expansionistas, investindo na descoberta, conquista e colonização do Novo Mundo e no sistema de trocas através dos vínculos mercantis com a Europa. (p. 59)
- As estruturas evoluídas eram a Holanda, a Inglaterra e a França que, apesar de deserdadas na divisão tordesilhana do mundo, já então se conformavam como uma formação Capitalista Mercantil. Atrasados eram Espanha e Portugal, como Impérios Mercantis Salvacionistas de economia fundada no colonialismo escravista. (p. 59)
- O ouro e a prata arrancados da América em enormes quantidades se tornavam simples moeda. Espanha e Portugal transformam-se, como conseqüência, em entrepostos de suprimento de metais preciosos, especiarias e, mais tarde, de açúcar e outros produtos tropicais à mercadores de toda a Europa. (p. 60)
- O contexto extra-europeu de povos supridores de matérias-primas e consumidores de manufaturas foi construído através de séculos, mediante todas as formas de opressão e terrorismo. (p. 62)
- A Revolução Industrial da Europa, avançando de povo a povo, promove desenraizamentos de massas humanas e a sua exportação para todos os quadrantes da Terra. (p. 64)
- Os Holandeses, franceses e ingleses também passam a apropriar-se de pedaços de um mundo que parecia condenado ao usufruto do europeu mais audaz. Mais adiante outros sócios entrariam na partilha, restringindo as possessões portuguesas e espanholas. (p. 65)
- A expansão ibérica foi justificada, a princípio, em termos do seu direito de usufruir os descobrimentos amparada por títulos papais. Mais tarde, em face da polêmica suscitada por Bartolomeu de las Casas com respeito às prerrogativas naturais dos indígenas, foi elaborada toda uma doutrina colonialista. (p. 66)
- O poder que antes era centrado na Europa, passou a dividir-se entre os continentes. (p. 67)
- Com o desenvolvimento do processo civilizatório, a Europa tem os pés sobre os quais se sustentava sua hegemonia e sua riqueza quebrados: o domínio e exploração dos povos coloniais e o monopólio da tecnologia industrial moderna. Novas nacionalidades surgiram no mundo extra-europeu e se fizeram não apenas autônomas no campo político, mas também autárquicas e competitivas, pelo desenvolvimento de economias industriais próprias. (p. 67)

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