quarta-feira, 15 de maio de 2013

FICHAMENTO DO CAPÍTULO 7: "A VENDA DE ESPOSAS", DO LIVRO "COSTUMES EM COMUM", DE E. P. THOMPSON

THOMPSON, E. P. Costumes em comum. Capítulo 7 – A venda de esposas. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. (p. 305 – 348)

- 1850: Nenhum inglês queria lembrar de uma prática tão bárbara; The book of days (1878): coloca a “culpa” na população rural; Franceses representavam os ingleses com brutalidade. (p. 305)
- As fontes para o estudo são enigmáticas e opacas; Tanto no The book of days e no The mayor of Casterbridge os relatos não mostram ritualização e sim a compra direta de um bem. (p. 306)
- Thompson encontra 300 casos; Menefee encontra 387 casos; Os dois compartilham da redefinição do ritual de venda de esposas como uma espécie de divórcio; Menefee escreve o texto como aprendiz de etnógrafo, sem conhecimento do contexto social histórico. Alguma parte do seu material é contraditório e irrelevante. (p. 307)
- Thompson coleta 300 casos e rejeita 50, resultando em 250 casos. Menefee coleta 387 casos, mas destes, Thompson considera “confiáveis” apenas 300. Na somatória das duas coletas, aproximadamente 150 casos se repetem nas descrições dos dois autores. Então a somatória final de casos equivale a aproximadamente 400. (308)
- Os primeiros exemplos não fornecem nenhuma evidência quanto à natureza da prática. (p. 308)- Aparentemente havia duas formas principais de realizar a venda de esposas. A primeira forma era em praça pública e a segunda forma, em uma taverna. A segunda forma substitui a primeira em 1830-1840 (p. 309)
- Quando a venda de esposas se tornou visível e relevante à classe média e ao público refinado para que fosse digna de uma nota na imprensa? Talvez a resposta esteja relacionada com as mudanças na consciência social, nos padrões morais e nos valores. Na imprensa se tornou freqüente no início do século XIX.  (p. 309)
- Mas há razões para crer que antes de 1790 a venda de esposa já fosse praticada. O costume foi pouco noticiado, pois não era considerado digno de registro. O silêncio pode ter ocorrido por ignorância e indiferença a um costume tão comum que não exigia comentários ou aversão. (p. 310)
- O clímax de vendas parece ser na década de 1830, porém, não podemos confiar nesses dados, pois o ritual já acontecia muitos anos antes, porém não era tão noticiado. (p. 310)
- Os casos de vendas de esposas se espalham por diversas regiões. (p. 311)
- O consenso da opinião esclarecida na metade do século XIX era de que a prática existia apenas nas camadas populares, principalmente nas zonas rurais afastadas. (p. 312)
- Os casos que ocorriam nas classes mais elevadas recebiam duras críticas da imprensa. As mulheres eram descritas mais pela aparência do que pela ocupação. (p. 313)
- Trocas eram feitas por cerveja, animais (burro, cachorro), e dinheiro (xelins); Algumas notícias são abreviadas, outras são sensacionalistas e de forma bem completa. (p 314)
- Formas rituais da venda de esposa:
a) A venda deveria ocorrer numa praça de mercado ou outro local de comércio. Se não fosse em um desses locais, talvez a venda não fosse reconhecida perante a sociedade e tornava-se ilegal. (p. 315 e 316)
b) Venda precedida por anúncio público. (p. 316)
c) A corda era essencial para o ritual. Presa no pescoço ou na cintura. A corda era um elemento para transferência legal. (p. 316)
d) No mercado deveria haver uma espécie de leiloeiro. Podia ser o marido, um funcionário do mercado, etc. Leiloeiro muitas vezes elaborava elogios à mulher. (p. 318)
e) Deveria haver troca de algum dinheiro, não interessando o valor. (p. 320)
f) No momento da entrega da corda às vezes se faziam juramentos parecidos ao de uma cerimônia de casamento. (p. 320)
- Muitas vezes se confeccionavam documentos, que eram guardados como certidões, como prova de respeitabilidade. (p. 321)
- Para a moral cristã a venda de esposas era altamente ilegal e imoral e tinha tendência a menosprezar o matrimônio. (p. 322)
- O autor diz ter de retirar a venda de esposas da categoria de uma brutal venda de gado e colocá-la na categoria de uma espécie de divórcio seguido de novo casamento. (p. 323)
- O consentimento da esposa era condição necessária para a venda. Muitas vezes, apesar da venda ser feita em um aparente leilão, o comprador já havia sido predeterminado e já era o amante da esposa. (p. 323)
- Pergunta: se tanto a esposa como o marido podiam de vez em quando recorrer à fuga e ao abandono do lar, por que os dois ainda achavam necessário passar pelo ritual público (e vergonhoso) da venda?
- Autor classifica os dados:
a) Sem o consentimento da esposa: Não estou sugerindo que as esposas não fossem às vezes vendidas sob coerção, mas que, se elas claramente repudiavam a transação, a venda não era considerada válida de acordo com a tradição e a sanção dos costumes. (p. 328)
b) Com o consentimento da esposa: Relatos de esposas felizes. (p. 329)
c) Sem informação: Sem informação sobre o consentimento das esposas. (329)
d) Divórcio arranjado: Casos em que as esposas foram vendidas aos seus parentes. (p. 329)
e) Esposa vendida ao amante: Nenhum caso explícito. (p. 330)
- Havia certa burocracia no ritual: consentimento da mulher, má conduta, comprador deveria ser solteiro, matrimônio em crise. (p. 331)
- O ritual da venda de esposa era provavelmente uma “tradição inventada”. Talvez só tenha sido inventada no final do século XVII, e possivelmente até mais tarde. Sem dúvida, havia exemplos de venda de esposas antes de 1660, mas não sei de nenhum caso que forneça evidência clara do leilão público e da corda. (p. 333)
- Isso não sugere um costume antigo de origem esquecida ao longo dos séculos, mas a pressão de novas necessidades que buscavam um ritual para se expressarem. A venda de esposas surgira como conseqüência das guerras, com a separação e as ovas ligações amorosas que daí advinham. (p. 333)
- Condições para a venda, que era mais plausível que um divórcio formal: declínio da vigilância da Igreja e seus tribunais sobre a conduta sexual; consentimento da comunidade plebéia em relação à culta; autoridade civil distanciada, desatenta ou tolerante. (p. 334)
- Não havia divórcio possível para o povo inglês ou galês. A venda era uma alternativa. (p. 334)
- Por vezes a venda de esposas tem sido apresentada como um ritual de brutalidade. Mas a cultura plebeia, crédula e supersticiosa tinha em alta os rituais e as formalidades. (p. 335)
- O ritual da venda muitas vezes amenizava as críticas da comunidade. (p. 336)
- O público presente também tinha um papel. Como se fosse uma peça de teatro aprovavam ou reprovavam o acontecimento. (p. 339)
- Magistrado do século XIX sobre a venda de esposas: “quanto ao ato da venda em si, acho que não tenho o direito de impedi-la [...] porque está fundamentada num costume preservado pelo povo, do qual seria talvez perigoso privá-lo.” (p. 340)
- A partir de 1830 a prática começa a declinar. Talvez por uma maior interferência dos magistrados e também por ter declínio na legitimidade popular. A antiga cultura plebeia estava perdendo a autoridade interna, tendo que lidar com incertezas quanto às suas próprias sanções e códigos. (p. 341)
- Crítica feminista ao trabalho de Thompson: O meu título, “A venda de esposas”, levara o público a esperar uma pesquisa erudita sobre mais um exemplo da miserável opressão das mulheres. Mas o meu material não se ajustava (e não se ajusta) exatamente a esse estereótipo. (p. 344)
- Mesmo se redefinirmos a venda das esposas como divórcio consentido, era a troca de uma mulher entre dois homens. Mas as vendas não precisavam favorecer o marido. (p. 345)
- Nessas comunidades proto-industriais, as relações entre os sexos estavam passando por mudanças. Ainda não é apropriado usar um vocabulário de “direitos”; talvez “valor” ou “respeito” sejam os termos de que precisemos. (p. 346)
- Quanto às mulheres: Talvez não fossem os “direitos” de hoje em dia, mas elas não eram sujeitos passivos da história. (p. 346)       


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