quarta-feira, 15 de maio de 2013

FICHAMENTO DO CAPÍTULO INTITULADO "MICRO-HISTÓRIA", DE HENRIQUE ESPADA LIMA, DO LIVRO "NOVOS DOMÍNIOS DA HISTÓRIA", ORGANIZADO POR CIRO FLAMARION CARDOSO E RONALDO VAINFAS

LIMA, Henrique Espada. Micro-História, in: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Novos Domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

- O capítulo tenta localizar o debate e seus protagonistas e compreender o significado da micro-história e suas transformações;
Quem faz o debate e da onde surge?
- Tem seus contornos iniciais na Itália dos anos 70 e 80 e é articulado com a história social do país. (p. 207)
- Em 1950 há uma internacionalização da pesquisa histórica e da mobilidade dos pesquisadores: inicia uma troca historiográfica entre a França e a Itália e entre 1950-1960 a história social na Itália é construída com bases de interesse pela historiografia internacional e diálogo com as ciências sociais. Ao mesmo tempo, triunfaram os grandes modelos interpretativos das Ciências Sociais. (p. 208)
- Conseqüência do diálogo com as Ciências Sociais: a multiplicação de estudos sócio-históricos, demográficos e econômicos, baseados em pesquisas quantitativas e seriais que exercem impacto sobre os métodos e temas dos historiadores. (p. 208)
- História marcada pela aproximação “científica”, “quantitativa” e “estrutural” do passado, e pelo “questionário” que seria completo para enfrentar os desafios interpretativos da compreensão do presente e da história. Essa idéia é compartilhada pelos marxistas e liberais. (p. 209)
- Na Itália, a relação da historiografia com as matrizes da história social não era homogênea. Ex: Aproximação com os Annales. Ainda que Braudel e os grandes modelos interpretativos ocupassem a discussão dos historiadores, a permanência dessas estruturas era questionada. Outro exemplo, é o interesse dos italianos pelo debate inglês da história social. (p. 209)
- A agenda política do operariado industrial soma-se à intensificação de outras agendas políticas: lutas anti-coloniais, anti-racistas, movimentos feministas, estudantis, etc. Esse quadro político cultural é vivido intensamente na Itália. (p. 210)
- Resultado desse momento no campo da história social: multiplicação de temas e “explosão de história”. (p. 210)
- A origem única para a micro-história não pode ser apontada. No caso da Itália são diversos fatores: circulação de pesquisadores, livros e idéias, criação de áreas de pesquisa nas universidades, nascimento de revistas... (p. 210)
- Revistas: Storia d’Italia (1972): Ruggiero Romano e Corrado Vivanti, formados na França e ligados aos Annales; Quaderni Storici (1970): Contava com nomes como Edoardo Grendi, Geovani Levi, Carlo Ginzburg, Luisa Accoli, Carlo Poni... (p. 211)
- Quaderni Storici traz debates da história social em temas clássicos, como modelos econômicos e história agrária, e também em novos temas, como a história da família, da comunidade, demografia histórica, folclores, cultura material, história e antropologia e história oral. (p. 211)
- Edoardo Grandi traz um artigo denominado “Micro análise e História Social”, publicado em 1977. É o primeiro momento em que descreve mais claramente uma proposta metodológica em torno da idéia de microanálise social.
- Grendi dizia que a história social necessitava levar a sério a lição da antropologia, voltada para a análise das relações sociais, políticas e culturais, a partir da referência empírica recolhida na observação direta.
- Embate: recusa ao uso anti-histórico de categorias analíticas como “classe” (marxista) e “mercado” (liberal).
- Crítica aos modelos interpretativos da transformação histórica definidos por uma hierarquia de relevâncias predefinidas. (p. 213)
- Insatisfação com os modelos da história econômica e com o Marxismo, que marcava as interpretações sobre a transformação social e lógica das associações sociais. (p. 213)
- A partir de 1970, alguns historiadores passam a dar conteúdo empírico ao tema da microanálise histórica. (p. 213)
- 1979 - Carlo Poni e Ginzburg: “O nome e o como: troca desigual e o mercado historiográfico.” Artigo para os Annales. (p. 213)
- Os autores italianos atribuíam o interesse crescente pela micro-história, pois os grandes modelos interpretativos da história social foram colocados sob suspeita pelas transformações políticas e sociais. (p. 213)
- A micro-história aparecia como uma resposta a essas insatisfações, aceitando o desafio de construir uma história impregnada de Antropologia, voltada a investigar as dimensões negligenciadas pela experiência história. (214)
- 1979, em “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”, Ginzburg discutia a emergência de um paradigma científico alternativo nas Ciências Humanas do século XIX. A História, que estava ligada a elementos singulares, individuais e irrepetíveis, se contrapunha à física e ciência moderna, cujo conhecimento científico era representado pelas regularidades e universalidades.
- Livro “O queijo e os vermes” é um exemplo de micro-história.
- No fim da década de 1970, a micro-história toma forma como uma frente diversificada de investigação, diferente de uma “escola” ou “proposta metodológica”. Faltava preenchê-la.
- 1981 - Carlo Ginzburg e Giovanni Levi: “Microstorie”. Propunham a micro-história a partir de uma chave plural e amplamente experimental. Ênfase na complexidade da realidade cuja análise atenta seria capaz de produzir tanto quadros interpretativos quanto objetos novos de investigação. (p. 215)
- 1985 - Givanni Levi: “Herança Imaterial”, publicado na mesma coleção, mobilizava uma pesquisa empírica aliada a uma problematização sofisticada em intercâmbio com a antropologia social e econômica e a história social, em diálogo com diversos autores. (p. 217)
- Uma das marcas da análise proposta por Levi encontrava-se na atenção sobre as “estratégias” de indivíduos e grupos, seu uso consciente (ainda que limitado) dos recursos materiais e imateriais, sua capacidade de agir nos interstícios e descontinuidades dos sistemas normativos e das estruturas sociais. (p. 217)
- Micro-história nunca adquiriu um prestígio tão grande na Itália como angariou em outros lugares. (p. 218)
- O reequilíbrio das trocas historiográficas introduziu o debate da micro-história em um horizonte mais amplo de rediscussão da história social, sobretudo a partir da década d 1980. (p. 219)
- Na França, a recepção da micro-história foi marcada pela colaboração mais próxima e pelo interesse recíproco marcado pela discussão sobre a microanálise social e suas dimensões metodológicas.
- Jacques Revel foi um dos responsáveis pelo trânsito historiográfico entre a França e a Itália na década de 1980.
- Revel reconhecia a pretensão intelectual da micro-história de recusa à compreensão do “social” ou do “contexto”, como se queira (social, cultural ou outro) – como uma realidade de contornos previamente definidos e estruturados, que o historiador reconhece e na qual deve simplesmente encontrar o lugar coerente do seu objeto de pesquisa. (p. 219)
- A pretensão estava exatamente em “revelar” por intermédio do estudo intensivo em escala a reduzida da trama fina do tecido social, dimensões desconhecidas desse “contexto” e da dinâmica completa das suas transformações. (p. 219)
- Escala: conceito de um antropólogo que passa a ser utilizado. A alteração controlada da escala de observação poderia ser uma operação que permitiria colocar em relevo e explorar em detalhe aspectos fundamentais de um problema de pesquisa de qualquer dimensão. (p. 219)
- Jogo de escalas proposto pela micro-história é ponto crucial de sua capacidade de renovar métodos e objetos de investigação. (p. 219)
- Jogos de escalas - Giovani Levi – questões e posições comuns à micro-história: redução da escala, debate sobre racionalidade, pequena indicação como paradigma científico, papel do particular, atenção à capacidade receptiva e à narrativa, definição específica do contexto e rejeição ao relativismo.
Micro história e suas transformações:
- De início, a micro-história pretendia insurgir contra as simplificações  totalizantes de uma história social, queria dar atenção aos grupos marginais. Seu programa original foi alterado incorporando novas questões.
- Levi: capacidade de a micro-história produzir perguntas capazes de serem transportadas para contextos espaciais e temporais distintos.
- 1980: micro-história entra no debate brasileiro.
- Sua proposta sempre foi a de considerar a realidade histórica de um modo mais rico e complexo, olhando aspectos da realidade em escala reduzida, com novas perguntas e novas respostas, qualificar a compreensão geral dos processos e ampliar limites do poder histórico.

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