- O capítulo tenta localizar
o debate e seus protagonistas e compreender o significado da micro-história e
suas transformações;
Quem faz o debate e da onde
surge?
- Tem seus contornos
iniciais na Itália dos anos 70 e 80 e é articulado com a história social do
país. (p. 207)
- Em 1950 há uma
internacionalização da pesquisa histórica e da mobilidade dos pesquisadores:
inicia uma troca historiográfica entre a França e a Itália e entre 1950-1960 a
história social na Itália é construída com bases de interesse pela
historiografia internacional e diálogo com as ciências sociais. Ao mesmo tempo,
triunfaram os grandes modelos interpretativos das Ciências Sociais. (p. 208)
- Conseqüência do diálogo
com as Ciências Sociais: a multiplicação de estudos sócio-históricos,
demográficos e econômicos, baseados em pesquisas quantitativas e seriais que
exercem impacto sobre os métodos e temas dos historiadores. (p. 208)
- História marcada pela
aproximação “científica”, “quantitativa” e “estrutural” do passado, e pelo
“questionário” que seria completo para enfrentar os desafios interpretativos da
compreensão do presente e da história. Essa idéia é compartilhada pelos
marxistas e liberais. (p. 209)
- Na Itália, a relação da
historiografia com as matrizes da história social não era homogênea. Ex:
Aproximação com os Annales. Ainda que Braudel e os grandes modelos
interpretativos ocupassem a discussão dos historiadores, a permanência dessas
estruturas era questionada. Outro exemplo, é o interesse dos italianos pelo
debate inglês da história social. (p. 209)
- A agenda política do
operariado industrial soma-se à intensificação de outras agendas políticas:
lutas anti-coloniais, anti-racistas, movimentos feministas, estudantis, etc.
Esse quadro político cultural é vivido intensamente na Itália. (p. 210)
- Resultado desse momento no
campo da história social: multiplicação de temas e “explosão de história”. (p.
210)
- A origem única para a
micro-história não pode ser apontada. No caso da Itália são diversos fatores:
circulação de pesquisadores, livros e idéias, criação de áreas de pesquisa nas
universidades, nascimento de revistas... (p. 210)
- Revistas: Storia d’Italia (1972): Ruggiero Romano
e Corrado Vivanti, formados na França e ligados aos Annales; Quaderni Storici (1970): Contava com
nomes como Edoardo Grendi, Geovani Levi, Carlo Ginzburg, Luisa Accoli, Carlo
Poni... (p. 211)
- Quaderni Storici traz debates da história social em temas
clássicos, como modelos econômicos e história agrária, e também em novos temas,
como a história da família, da comunidade, demografia histórica, folclores,
cultura material, história e antropologia e história oral. (p. 211)
- Edoardo Grandi traz um
artigo denominado “Micro análise e História Social”, publicado em 1977. É o
primeiro momento em que descreve mais claramente uma proposta metodológica em
torno da idéia de microanálise social.
- Grendi dizia que a
história social necessitava levar a sério a lição da antropologia, voltada para
a análise das relações sociais, políticas e culturais, a partir da referência
empírica recolhida na observação direta.
- Embate: recusa ao uso
anti-histórico de categorias analíticas como “classe” (marxista) e “mercado”
(liberal).
- Crítica aos modelos
interpretativos da transformação histórica definidos por uma hierarquia de
relevâncias predefinidas. (p. 213)
- Insatisfação com os
modelos da história econômica e com o Marxismo, que marcava as interpretações
sobre a transformação social e lógica das associações sociais. (p. 213)
- A partir de 1970, alguns
historiadores passam a dar conteúdo empírico ao tema da microanálise histórica.
(p. 213)
- 1979 - Carlo Poni e
Ginzburg: “O nome e o como: troca desigual e o mercado historiográfico.” Artigo
para os Annales. (p. 213)
- Os autores italianos
atribuíam o interesse crescente pela micro-história, pois os grandes modelos
interpretativos da história social foram colocados sob suspeita pelas
transformações políticas e sociais. (p. 213)
- A micro-história aparecia
como uma resposta a essas insatisfações, aceitando o desafio de construir uma
história impregnada de Antropologia, voltada a investigar as dimensões
negligenciadas pela experiência história. (214)
- 1979, em “Sinais: raízes
de um paradigma indiciário”, Ginzburg discutia a emergência de um paradigma
científico alternativo nas Ciências Humanas do século XIX. A História, que
estava ligada a elementos singulares, individuais e irrepetíveis, se
contrapunha à física e ciência moderna, cujo conhecimento científico era
representado pelas regularidades e universalidades.
- Livro “O queijo e os
vermes” é um exemplo de micro-história.
- No fim da década de 1970,
a micro-história toma forma como uma frente diversificada de investigação,
diferente de uma “escola” ou “proposta metodológica”. Faltava preenchê-la.
- 1981 - Carlo Ginzburg e
Giovanni Levi: “Microstorie”. Propunham a micro-história a partir de uma chave
plural e amplamente experimental. Ênfase na complexidade da realidade cuja
análise atenta seria capaz de produzir tanto quadros interpretativos quanto
objetos novos de investigação. (p. 215)
- 1985 - Givanni Levi:
“Herança Imaterial”, publicado na mesma coleção, mobilizava uma pesquisa
empírica aliada a uma problematização sofisticada em intercâmbio com a
antropologia social e econômica e a história social, em diálogo com diversos
autores. (p. 217)
- Uma das marcas da análise
proposta por Levi encontrava-se na atenção sobre as “estratégias” de indivíduos
e grupos, seu uso consciente (ainda que limitado) dos recursos materiais e
imateriais, sua capacidade de agir nos interstícios e descontinuidades dos
sistemas normativos e das estruturas sociais. (p. 217)
- Micro-história nunca
adquiriu um prestígio tão grande na Itália como angariou em outros lugares. (p.
218)
- O reequilíbrio das trocas
historiográficas introduziu o debate da micro-história em um horizonte mais
amplo de rediscussão da história social, sobretudo a partir da década d 1980.
(p. 219)
- Na França, a recepção da
micro-história foi marcada pela colaboração mais próxima e pelo interesse
recíproco marcado pela discussão sobre a microanálise social e suas dimensões
metodológicas.
- Jacques Revel foi um dos
responsáveis pelo trânsito historiográfico entre a França e a Itália na década
de 1980.
- Revel reconhecia a pretensão
intelectual da micro-história de recusa à compreensão do “social” ou do
“contexto”, como se queira (social, cultural ou outro) – como uma realidade de
contornos previamente definidos e estruturados, que o historiador reconhece e
na qual deve simplesmente encontrar o lugar coerente do seu objeto de pesquisa.
(p. 219)
- A pretensão estava
exatamente em “revelar” por intermédio do estudo intensivo em escala a reduzida
da trama fina do tecido social, dimensões desconhecidas desse “contexto” e da
dinâmica completa das suas transformações. (p. 219)
- Escala: conceito de um
antropólogo que passa a ser utilizado. A alteração controlada da escala de
observação poderia ser uma operação que permitiria colocar em relevo e explorar
em detalhe aspectos fundamentais de um problema de pesquisa de qualquer
dimensão. (p. 219)
- Jogo de escalas proposto
pela micro-história é ponto crucial de sua capacidade de renovar métodos e
objetos de investigação. (p. 219)
- Jogos de escalas - Giovani
Levi – questões e posições comuns à micro-história: redução da escala, debate
sobre racionalidade, pequena indicação como paradigma científico, papel do
particular, atenção à capacidade receptiva e à narrativa, definição específica
do contexto e rejeição ao relativismo.
Micro história e suas
transformações:
- De início, a
micro-história pretendia insurgir contra as simplificações totalizantes de uma história social, queria
dar atenção aos grupos marginais. Seu programa original foi alterado
incorporando novas questões.
- Levi: capacidade de a
micro-história produzir perguntas capazes de serem transportadas para contextos
espaciais e temporais distintos.
- 1980: micro-história entra
no debate brasileiro.
- Sua proposta sempre foi a
de considerar a realidade histórica de um modo mais rico e complexo, olhando
aspectos da realidade em escala reduzida, com novas perguntas e novas
respostas, qualificar a compreensão geral dos processos e ampliar limites do
poder histórico.
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