CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e
representações. Tradução Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1990.
- Nos anos 60 e 70, a
história era então institucionalmente dominante e se encontrava
intelectualmente ameaçada. (p. 13)
- O desafio lançado à
história pelas novas disciplinas assumiu diversas formas, umas estruturalistas,
outras não, mas que no conjunto puseram em causa os seus objetos – desviando a
atenção das hierarquias para as relações, das posições para as representações –
e as suas certezas metodológicas – consideradas mal fundadas quando
confrontadas com as novas exigências teóricas. (p. 14)
- A resposta dos
historiadores foi dupla. Puseram em prática uma estratégia de captação,
colocando-se nas primeiras linhas desbravadas por outros. (p. 14)
- Nessa captação não pôs-se
de lado nada da base do sucesso da disciplina, determinado pelas renovações
audaciosas do tratamento serial dessas fontes massivas (registros de preços,
registros paroquiais, etc.). (p. 15)
- A investigação da cultura
popular, os números e a quantificação, a longa duração, a divisão social, os
fatos da mentalidade são características da história cultural, que conciliou
novos domínios de investigação com fidelidade aos postulados da história
social, como estratégia da própria disciplina. (p. 15)
- A história cultural, tal
como a entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em
diferentes momentos uma determinada realidade social é construída, pensada,
dada a ler. O primeiro diz respeito às classificações, divisões e delimitações
que organizam a apreensão do mundo
social como categorias fundamentais de percepção e de apreciação do real. (p.
17)
- As representações do mundo
social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico
fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as
forjam. (p. 17)
- As lutas de representações
tem tanta importância como as lutas econômicas para compreender os mecanismos
pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção de mundo social, os
valores que são os seus, e o seu domínio. (p. 17)
- Os debates recentes entre
os defensores da micro-história ou dos estudos de caso e os da história
sociocultural serial, herdeira direta da história social, ilustram bem essa
polarização construtiva do campo das ciências sociais. (p. 18)
- A noção de representação
coletiva, entendida no sentido que lhe atribuíam, permite, conciliar as imagens
mentais claras com os esquemas interiorizados, as categorias incorporadas, que
a gerem e estruturam. (p. 19)
- Dessa forma, pode
pensar-se uma história cultural do social que tome por objeto a compreensão das
formas e do motivos que, à revelia dos atores sociais, traduzem as suas
posições e interesses objetivamente confrontados e que, paralelamente,
descrevem a sociedade como pensam que ela é, ou como gostariam que fosse. (p.
19)
- Será necessário
identificar como símbolos e considerar como simbólicos todos os signos, atos e
objetos? (p. 19)
- Propomos que se tome o
conceito de representação num sentido mais particular e historicamente mais
determinado. A representação como dando a ver uma coisa ausente, distinguindo o
que representa e o que é representado, a representação como exibição de uma
presença, como apresentação pública de algo ou alguém. (p. 20)
- A representação é
instrumento de conhecimento mediato, que faz ver um objeto ausente através da
sua substituição por uma imagem capaz de o reconstituir em memória e de o
figurar tal como ele é. (p. 20)
- Port-Royal coloca os
termos de uma questão histórica fundamental: a da variabilidade e da
pluralidade de compreensões (ou incompreensões) das representações do mundo
social e natural propostas nas imagens e textos antigos. (p. 21)
- (...) é necessário
inscrever a importância crescente adquirida pelas lutas de representações onde
o que está em jogo é a ordenação, logo a hierarquização da própria estrutura
social. (...) a história cultural pode regressar utilmente ao social, já que
faz incidir a sua atenção sobre as estratégias que determinam posições e
relações e que atribuem a cada classe, grupo ou meio um ser-apreendido
constitutivo da sua identidade. (p. 23)
- A representação pode ser
construída a partir das acepções antigas. (p. 23)
- A definição de história
cultural pode, nesse contexto, encontrar-se alterada. Por um lado, é preciso
pensá-la como a análise do trabalho de representação, isto é, das
classificações e das exclusões que constituem, na sua diferença radical, as
configurações sociais e conceptuais próprias de um tempo ou de um espaço. (p.
27)
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