quarta-feira, 15 de maio de 2013

FICHAMENTO DO TEXTO: "A HISTÓRIA CULTURAL: ENTRE PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES", DE ROGER CHARTIER

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990. 


- Nos anos 60 e 70, a história era então institucionalmente dominante e se encontrava intelectualmente ameaçada. (p. 13)
- O desafio lançado à história pelas novas disciplinas assumiu diversas formas, umas estruturalistas, outras não, mas que no conjunto puseram em causa os seus objetos – desviando a atenção das hierarquias para as relações, das posições para as representações – e as suas certezas metodológicas – consideradas mal fundadas quando confrontadas com as novas exigências teóricas. (p. 14)
- A resposta dos historiadores foi dupla. Puseram em prática uma estratégia de captação, colocando-se nas primeiras linhas desbravadas por outros. (p. 14)
- Nessa captação não pôs-se de lado nada da base do sucesso da disciplina, determinado pelas renovações audaciosas do tratamento serial dessas fontes massivas (registros de preços, registros paroquiais, etc.). (p. 15)
- A investigação da cultura popular, os números e a quantificação, a longa duração, a divisão social, os fatos da mentalidade são características da história cultural, que conciliou novos domínios de investigação com fidelidade aos postulados da história social, como estratégia da própria disciplina. (p. 15)
- A história cultural, tal como a entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler. O primeiro diz respeito às classificações, divisões e delimitações que organizam  a apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e de apreciação do real. (p. 17)
- As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. (p. 17)
- As lutas de representações tem tanta importância como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção de mundo social, os valores que são os seus, e o seu domínio. (p. 17)
- Os debates recentes entre os defensores da micro-história ou dos estudos de caso e os da história sociocultural serial, herdeira direta da história social, ilustram bem essa polarização construtiva do campo das ciências sociais. (p. 18)
- A noção de representação coletiva, entendida no sentido que lhe atribuíam, permite, conciliar as imagens mentais claras com os esquemas interiorizados, as categorias incorporadas, que a gerem e estruturam. (p. 19)
- Dessa forma, pode pensar-se uma história cultural do social que tome por objeto a compreensão das formas e do motivos que, à revelia dos atores sociais, traduzem as suas posições e interesses objetivamente confrontados e que, paralelamente, descrevem a sociedade como pensam que ela é, ou como gostariam que fosse. (p. 19)
- Será necessário identificar como símbolos e considerar como simbólicos todos os signos, atos e objetos? (p. 19)
- Propomos que se tome o conceito de representação num sentido mais particular e historicamente mais determinado. A representação como dando a ver uma coisa ausente, distinguindo o que representa e o que é representado, a representação como exibição de uma presença, como apresentação pública de algo ou alguém. (p. 20)
- A representação é instrumento de conhecimento mediato, que faz ver um objeto ausente através da sua substituição por uma imagem capaz de o reconstituir em memória e de o figurar tal como ele é. (p. 20)
- Port-Royal coloca os termos de uma questão histórica fundamental: a da variabilidade e da pluralidade de compreensões (ou incompreensões) das representações do mundo social e natural propostas nas imagens e textos antigos. (p. 21)
- (...) é necessário inscrever a importância crescente adquirida pelas lutas de representações onde o que está em jogo é a ordenação, logo a hierarquização da própria estrutura social. (...) a história cultural pode regressar utilmente ao social, já que faz incidir a sua atenção sobre as estratégias que determinam posições e relações e que atribuem a cada classe, grupo ou meio um ser-apreendido constitutivo da sua identidade. (p. 23)
- A representação pode ser construída a partir das acepções antigas. (p. 23)
- A definição de história cultural pode, nesse contexto, encontrar-se alterada. Por um lado, é preciso pensá-la como a análise do trabalho de representação, isto é, das classificações e das exclusões que constituem, na sua diferença radical, as configurações sociais e conceptuais próprias de um tempo ou de um espaço. (p. 27)

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