quarta-feira, 15 de maio de 2013

FICHAMENTO DOS CAPÍTULOS 1 - "UMA HISTÓRIA PRESENTE", DE RENÉ RÉMOND, e 7 - "A MÍDIA", DE JEAN-NOËL JEANNENEY, DO LIVRO INTITULADO "POR UMA HISTÓRIA POLÍTICA", DE RENÉ RÉMOND

RÉMOND, René. Por uma história política. 2. Ed. Rio de Janeiro: Editora PGV, 2003. (p. 13-36 e 213-225)

Capítulo 1 – Uma História Presente – René Rémond

- Existe uma história da história que carrega o rastro das transformações da sociedade e reflete as grandes oscilações do movimento das idéias. E por isso que as gerações de historiadores que se sucedem não se parecem (...). (p. 13)
- Era inevitável que o desenvolvimento da história econômica ou social se fizesse às custas do declínio da história dos fatos políticos (...). (p. 14)
- (...) a explicação dessas oscilações está na relação entre a realidade observada e o olhar que a observa. (p. 14)
- A renovação que há meio século marcou tão profundamente na França a disciplina histórica teve como alvo principal e primeira vítima a história política. (p. 15)
- Desejosa de ir ao fundo das coisas, de captar o âmago da realidade, a nova história considerava as estruturas duráveis mais reais e determinantes que os acidentes de conjuntura. (p. 16)
- A história política apresentava uma configuração que era exatamente contrária a essa história ideal. Estudo das estruturas? Ela só tinha olhos para os acidentes e as circunstâncias mais superficiais (...). (p. 16)
- A função do historiador é interrogar e formar hipóteses explicativas sobre os fatos, enquanto a história política permanecia narrativa, linear. (p. 17)
- A história política era elitista, aristocrática, condenada pelo ímpeto das massas e o advento da democracia. Anedótica, individualista, essa história incorria ainda no erro de cair no idealismo. (...) reunia assim todos os defeitos do gênero de história do qual uma geração almejava encerrar o reinado e precipitar a decadência.  (p. 18)
- Barrès: A política em si não passava de uma pequena coisa na superfície do real: a verdadeira realidade não estava ali. (p. 19)
- As novas orientações da pesquisa histórica estavam em harmonia com o ambiente intelectual e político. O advento da democracia política e social, o impulso do movimento operário, a difusão do socialismo dirigiam o olhar para as massas.
- Marx e Freud, cada um à sua maneira e por vias diferentes, contribuíram igualmente para acabar com o prestígio da história política. (p. 20)
- O Estado jamais passa de instrumento da classe dominante; as iniciativas dos poderes públicos, as decisões dos governos são apenas a expressão da relação de forças. Ater-se ao estudo do Estado como se ele encontrasse em si mesmo o seu princípio e a sua razão de ser é portanto deter-se na aparência das coisas. (p. 20)
- Há duas ou três décadas, esboçaram-se os sinais anunciadores, e depois multiplicaram-se as manifestações de um retorno com força total. (p. 21)
- A história de fato não vive fora do tempo em que é escrita, ainda mais quando se trata da história política: suas variações são resultado tanto das mudanças que afetam o político como das que dizem respeito ao olhar que o historiador dirige ao político. (p. 22)
- (...) a política tinha uma incidência sobre o destino dos povos e as existências individuais; contribuíram para dar crédito à idéia de que o político tinha uma consistência própria e dispunha mesmo de uma certa autonomia em relação aos outros componentes da realidade social. (p. 23)
- Outra coisa atuou no mesmo sentido para reintegrar os fatos políticos ao campo de observação da história: a ampliação do domínio da ação política com o aumento das atribuições do Estado. (p. 23)
- À medida que os poderes públicos eram levados a legislar, regulamentar, subvencionar, controlar a produção, construção de moradias, a assistência social, a saúde pública, a difusão da cultura, esses setores passaram, uns após os outros, para os domínios da história política. (p. 24)
- Algumas pessoas passaram assim alegremente da constatação de que o político está em toda parte à idéia de que tudo é político. (p. 25)
- O movimento de 1968 não contribuiu pouco para conduzir o político ao primeiro plano da reflexão. (p. 26)
- Charles Seignobos foi um dos primeiros a se dar conta de dois fatos importantes cuja constatação foi determinante nas origens da sociologia eleitoral: a diversidade dos temperamentos políticos regionais e a antiguidade de seu enraizamento. (p. 27)
- (...) a história política deve bastante às trocas com outras disciplinas: sociologia, direito público, psicologia social, e mesmo psicanálise, lingüística, matemática, cartografia e outras de que esqueço. (p. 29)
- A ciência política, conjugando seus efeitos com a sociologia, obrigou o historiador a formular perguntas que renovam as perspectivas. (p. 30)
- Um dos atributos de que a história à nova maneira se orgulha mais legitimamente, um de seus títulos para pretender à cientificidade, é o de basear-se numa massa documental que ela trata estatisticamente. (p. 32)
- Durante muito tempo censurou-se a história política por só se interessar elas minorias privilegiadas e esquecer o povo, as multidões, as massas, o grande número. (p. 33)
- Uma terceira característica manteve durante muito tempo a história política afastada (...). Comparada às histórias da população, da instituição familiar, do trabalho, dos costumes e crenças, que tinham todas por objeto os fenômenos cuja evolução estava ligada a longa duração, a história dos fatos políticos aparecia como uma história do efêmero e do instante. (p. 34)
- As pesquisas sobre o abstencionismo, os estudos sobre a socialização, as investigações sobre o fato associativo, as observações sobre as correspondências entre prática religiosa e comportamento eleitoral contribuem para ressaltar tanto a variedade quanto a força das interações e interferências entre todos esses fenômenos sociais. (p. 36)

Capítulo 7 – A Mídia – Jean-Noël Jeanneney
- No front da história política renovada, o setor dos meios de comunicação não é o mais ardorosamente trabalhado. (p. 213)
- A história da imprensa escrita carrega assim de saída o handicap de um desequilíbrio da documentação: de um lado a massa imensa de papel impresso e, em contraste, uma mediocridade geral dos arquivos de empresas que permitiriam descrever a instituição do jornal, suas finanças, seus métodos de recrutamento, suas ligações cotidianas com os diferentes poderes. (p. 214)
- Se nos voltamos para a imprensa audiovisual, a situação é ainda piro: pois são muito mais difíceis – ao mesmo tempo dispendiosas e penosas – a conservação e a consulta dos arquivos de imagem e de som. (p. 215)
- Durante muito tempo, a curiosidade concentrou-se nesta pergunta simples: qual é a influência da mídia sobre a opinião pública e quais são os meios de que o Estado, os governantes, os partidos políticos, os grupos de pressão dispõem para pressionar a imprensa escrita, falada ou televisiva e, através dela, a opinião pública? (p. 215)
- É certo que a imprensa desempenha um papel na evolução dos comportamentos políticos – e, mais violentamente, dos votos -, mas os dirigentes tendem espontaneamente a exagerar muito isso. (p. 216)
- (...) bem sabemos que em história política uma idéia falsa vira depressa um fato verdadeiro. (p. 218)
- Sobre a verdade da influência dos poderes públicos e dos diversos grupos de pressão sobre a mídia, duas abordagens são possíveis e complementares. A primeira consiste em estudar, no tocante à imprensa escrita, o dinheiro mais ou menos oculto que a irriga. (p. 219)
- A segunda abordagem corresponde a uma visão mais fisiológica das coisas. (p. 220)
- A novidade introduzida pelos socialistas foi colocar o rádio e a televisão públicos a serviço da nação inteira e não de um governo ou uma maioria – sempre passageiros, na democracia. (p. 220 e 221)
- A eloqüência dos políticos foi certamente modificada por isso – a forma, a expressão, o vocabulário e a sintaxe, e talvez também seu gestual, sua maneira de se vestir e de se mover... (p. 221)
- É preciso sobretudo prestar atenção aos vínculos múltiplos que aproximam os atores da mídia de todos os outros. (...) Essas observações referem-se ao conjunto dos produtores da informação. Mas o estudo do produto tampouco deve ser esquecido. (p. 222 e 223)
- Para concluir, tomemos cuidado: o estudo das relações de poder, conflitantes ou convergentes, entre os meios de comunicação e o Estado, entre os meios de comunicação e a nação como um todo, não deve se furtar a considerar as instituições de comunicação em si mesmas. (p. 224)

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