RÉMOND, René. Por uma história política. 2. Ed. Rio
de Janeiro: Editora PGV, 2003. (p. 13-36 e 213-225)
Capítulo 1 – Uma História Presente –
René Rémond
- Existe uma história da
história que carrega o rastro das transformações da sociedade e reflete as
grandes oscilações do movimento das idéias. E por isso que as gerações de
historiadores que se sucedem não se parecem (...). (p. 13)
- Era inevitável que o
desenvolvimento da história econômica ou social se fizesse às custas do
declínio da história dos fatos políticos (...). (p. 14)
- (...) a explicação dessas
oscilações está na relação entre a realidade observada e o olhar que a observa.
(p. 14)
- A renovação que há meio
século marcou tão profundamente na França a disciplina histórica teve como alvo
principal e primeira vítima a história política. (p. 15)
- Desejosa de ir ao fundo
das coisas, de captar o âmago da realidade, a nova história considerava as
estruturas duráveis mais reais e determinantes que os acidentes de conjuntura.
(p. 16)
- A história política
apresentava uma configuração que era exatamente contrária a essa história
ideal. Estudo das estruturas? Ela só tinha olhos para os acidentes e as
circunstâncias mais superficiais (...). (p. 16)
- A função do historiador é
interrogar e formar hipóteses explicativas sobre os fatos, enquanto a história
política permanecia narrativa, linear. (p. 17)
- A história política era
elitista, aristocrática, condenada pelo ímpeto das massas e o advento da
democracia. Anedótica, individualista, essa história incorria ainda no erro de
cair no idealismo. (...) reunia assim todos os defeitos do gênero de história
do qual uma geração almejava encerrar o reinado e precipitar a decadência. (p. 18)
- Barrès: A política em si
não passava de uma pequena coisa na superfície do real: a verdadeira realidade
não estava ali. (p. 19)
- As novas orientações da
pesquisa histórica estavam em harmonia com o ambiente intelectual e político. O
advento da democracia política e social, o impulso do movimento operário, a
difusão do socialismo dirigiam o olhar para as massas.
- Marx e Freud, cada um à
sua maneira e por vias diferentes, contribuíram igualmente para acabar com o
prestígio da história política. (p. 20)
- O Estado jamais passa de
instrumento da classe dominante; as iniciativas dos poderes públicos, as
decisões dos governos são apenas a expressão da relação de forças. Ater-se ao
estudo do Estado como se ele encontrasse em si mesmo o seu princípio e a sua
razão de ser é portanto deter-se na aparência das coisas. (p. 20)
- Há duas ou três décadas,
esboçaram-se os sinais anunciadores, e depois multiplicaram-se as manifestações
de um retorno com força total. (p. 21)
- A história de fato não
vive fora do tempo em que é escrita, ainda mais quando se trata da história
política: suas variações são resultado tanto das mudanças que afetam o político
como das que dizem respeito ao olhar que o historiador dirige ao político. (p.
22)
- (...) a política tinha uma
incidência sobre o destino dos povos e as existências individuais; contribuíram
para dar crédito à idéia de que o político tinha uma consistência própria e
dispunha mesmo de uma certa autonomia em relação aos outros componentes da
realidade social. (p. 23)
- Outra coisa atuou no mesmo
sentido para reintegrar os fatos políticos ao campo de observação da história:
a ampliação do domínio da ação política com o aumento das atribuições do
Estado. (p. 23)
- À medida que os poderes
públicos eram levados a legislar, regulamentar, subvencionar, controlar a
produção, construção de moradias, a assistência social, a saúde pública, a
difusão da cultura, esses setores passaram, uns após os outros, para os
domínios da história política. (p. 24)
- Algumas pessoas passaram
assim alegremente da constatação de que o político está em toda parte à idéia
de que tudo é político. (p. 25)
- O movimento de 1968 não
contribuiu pouco para conduzir o político ao primeiro plano da reflexão. (p.
26)
- Charles Seignobos foi um
dos primeiros a se dar conta de dois fatos importantes cuja constatação foi
determinante nas origens da sociologia eleitoral: a diversidade dos
temperamentos políticos regionais e a antiguidade de seu enraizamento. (p. 27)
- (...) a história política
deve bastante às trocas com outras disciplinas: sociologia, direito público,
psicologia social, e mesmo psicanálise, lingüística, matemática, cartografia e
outras de que esqueço. (p. 29)
- A ciência política,
conjugando seus efeitos com a sociologia, obrigou o historiador a formular
perguntas que renovam as perspectivas. (p. 30)
- Um dos atributos de que a
história à nova maneira se orgulha mais legitimamente, um de seus títulos para
pretender à cientificidade, é o de basear-se numa massa documental que ela
trata estatisticamente. (p. 32)
- Durante muito tempo
censurou-se a história política por só se interessar elas minorias
privilegiadas e esquecer o povo, as multidões, as massas, o grande número. (p.
33)
- Uma terceira
característica manteve durante muito tempo a história política afastada (...).
Comparada às histórias da população, da instituição familiar, do trabalho, dos
costumes e crenças, que tinham todas por objeto os fenômenos cuja evolução
estava ligada a longa duração, a história dos fatos políticos aparecia como uma
história do efêmero e do instante. (p. 34)
- As pesquisas sobre o
abstencionismo, os estudos sobre a socialização, as investigações sobre o fato
associativo, as observações sobre as correspondências entre prática religiosa e
comportamento eleitoral contribuem para ressaltar tanto a variedade quanto a
força das interações e interferências entre todos esses fenômenos sociais. (p.
36)
Capítulo
7 – A Mídia – Jean-Noël Jeanneney
- No front da história
política renovada, o setor dos meios de comunicação não é o mais ardorosamente
trabalhado. (p. 213)
- A história da imprensa
escrita carrega assim de saída o handicap de um desequilíbrio da documentação:
de um lado a massa imensa de papel impresso e, em contraste, uma mediocridade
geral dos arquivos de empresas que permitiriam descrever a instituição do jornal,
suas finanças, seus métodos de recrutamento, suas ligações cotidianas com os
diferentes poderes. (p. 214)
- Se nos voltamos para a
imprensa audiovisual, a situação é ainda piro: pois são muito mais difíceis –
ao mesmo tempo dispendiosas e penosas – a conservação e a consulta dos arquivos
de imagem e de som. (p. 215)
- Durante muito tempo, a
curiosidade concentrou-se nesta pergunta simples: qual é a influência da mídia
sobre a opinião pública e quais são os meios de que o Estado, os governantes,
os partidos políticos, os grupos de pressão dispõem para pressionar a imprensa
escrita, falada ou televisiva e, através dela, a opinião pública? (p. 215)
- É certo que a imprensa
desempenha um papel na evolução dos comportamentos políticos – e, mais
violentamente, dos votos -, mas os dirigentes tendem espontaneamente a exagerar
muito isso. (p. 216)
- (...) bem sabemos que em
história política uma idéia falsa vira depressa um fato verdadeiro. (p. 218)
- Sobre a verdade da
influência dos poderes públicos e dos diversos grupos de pressão sobre a mídia,
duas abordagens são possíveis e complementares. A primeira consiste em estudar,
no tocante à imprensa escrita, o dinheiro mais ou menos oculto que a irriga.
(p. 219)
- A segunda abordagem
corresponde a uma visão mais fisiológica das coisas. (p. 220)
- A novidade introduzida
pelos socialistas foi colocar o rádio e a televisão públicos a serviço da nação
inteira e não de um governo ou uma maioria – sempre passageiros, na democracia.
(p. 220 e 221)
- A eloqüência dos políticos
foi certamente modificada por isso – a forma, a expressão, o vocabulário e a
sintaxe, e talvez também seu gestual, sua maneira de se vestir e de se mover...
(p. 221)
- É preciso sobretudo
prestar atenção aos vínculos múltiplos que aproximam os atores da mídia de
todos os outros. (...) Essas observações referem-se ao conjunto dos produtores
da informação. Mas o estudo do produto tampouco deve ser esquecido. (p. 222 e
223)
- Para concluir, tomemos
cuidado: o estudo das relações de poder, conflitantes ou convergentes, entre os
meios de comunicação e o Estado, entre os meios de comunicação e a nação como
um todo, não deve se furtar a considerar as instituições de comunicação em si
mesmas. (p. 224)
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