quarta-feira, 15 de maio de 2013

FICHAMENTO DO TEXTO: "GROUPS OR GATHERINGS? SOURCES OF POLITICAL ENGAGEMENT IN 19TH CENTURY AMERICAN CITIES." (GRUPOS OU ENCONTROS? FONTES DE ENGAJAMENTO POLÍTICO NO SÉCULO 19, EM CIDADES AMERICANAS.), DE JASON KAUFMAN E STEVEN J. TEPPER

KAUFMAN, Jason, TEPPER, Steven J. Groups or Gatherings? Sources of Political Engagement in 19th Century American Cities. Voluntas: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations, Vol. 10, No. 4, 1999, p. 299-322.

- Como pode haver democracia? Como os ideais individuais e coletivos muitas vezes contrastantes, podem ser alimentados simultaneamente? Existe uma forma ideal para o governo manter o equilíbrio necessário para esses ideais? Esse trabalho apresenta uma análise de duas abordagens para esse problema, vinculadas ao capital social:
1) A primeira abordagem é o interesse nas associações civis e organizações sem fins lucrativos que através da participação em redes organizadas conseguem ganhar acesso e mobilização nos interesses políticos. Os grupos que constroem um capital social forte dentro das comunidades tendem a formar comunidades mais democráticas a longo prazo;
2) A segunda abordagem acredita que a formação do capital social se dá na disposição espacial das cidades, na criação de espaços públicos que facilitam a interação anônima entre estranhos, É a chamada “interação informal”. (p. 300)
- Cita PUTNAN (1993, p. 167): “Redes, normas e confiança que facilitam a ação e a cooperação para benefício mútuo.” (p. 300)
- Dados quantitativos tentam responder a duas questões:
1) A rica vida associativa está relacionada à maior taxa de participação política?
2) A iteração informal em locais públicos (parques, bares, salões públicos, etc.) influenciam na participação política? (p. 300)
- A primeira abordagem considera a cultura cívica como consequência da troca organizada (participação em organizações voluntárias, associações civis ou qualquer outra organização extra-governamental ou não-comercial). Essa troca organizada promove confiança social e engajamento comunitário. (p. 301) Cita PUTNAN (1995, p. 53): “É mais provável que membros de organizações participem da política do que não-membros.” (p. 301) Nas associações civis os membros aprendem a cooperar e ter responsabilidades um com o outro. A participação política requer a confiança social e essa confiança tem origem nas pequenas interações entre membros de grupos organizados. (p. 301)
- Em contraste com a primeira, está a segunda abordagem que diz que a troca não-organizada, a interação não-formal que fomentam a participação política. Quem defende esse ponto de vista é Habermas (1989). (p. 301)
- SIMEL (1971), também exaltou os benefícios da “sociedade informal”. Parques, mercados, festas, etc., também são espaços para criar redes soltas, onde os cidadãos se engajam em trocas breves, tem contato com diversas pessoas e opiniões e são expostas a uma variedade social, política e cultural. Isso dá aos cidadãos o sentimento de fazer parte de uma grande política. (p. 302)
- Cita MINKOFF (1997, p. 612): “senso de identidade pública, de identidade coletiva.” (p. 302)
- Cita J. B. JACKSON (1987, p. 279): “Aprendemos a agir como cidadãos quando aparecem os espaços públicos.” (p. 302)
- Na verdade, confiar em estranhos e em outros que estamos vagamente ligados é um pré-requisito importante para participação no sistema político. O voto é uma expressão de confiança social geral, bem como a expressão de confiança no “Sistema sem rosto”. (p. 302)
- Na esfera pública, a liberdade e a tolerância são as normas, o que dá às pessoas anonimato, impessoalidade e liberdade para se expressar, participar do debate. Quando as relações são muito íntimas (associações como clubes, etc.) a esfera pública desaparece e a discussão política se torna arriscada. (p. 302)
- Para compreender como os dois tipos de interação social se relacionam com a participação democrática, é preciso comparar as diferentes formas de capital social que cada um produz. (p. 303)
- Algo em comum entre as duas perspectivas é que há uma crença na confiança social como base para participação política, mas existem aí dois contrastes: (p. 303)
1) No intercâmbio organizado (associações), familiaridade e hábito geram confiança; Nas associações os membros sentem que é seu dever como cidadãos, trabalharem juntos votar e participar da vida pública. Nas associações, o cidadão é cooperativo. (p. 304)
2) Na interação anônima ou semi-anônima se produz confiança generalizada. Para confiar no sistema político é preciso aprender a confiar nos estranhos, na sociedade. Nas interações informais a liberdade de expressão a tolerância e a civilidade são importantes e o cidadão é deliberativo. (p. 304)
- JACOBS (1961) diz que as associações de bairros são meios pelos quais os residentes urbanos podem ganhar influências nos assuntos políticos locais. (p. 304)
- BARBER (1998) diz que o espaço público é necessário, mas não é condição para um engajamento político sério. (p. 304)
- Cita NEWTON (1997, p. 581): Nem todos os tipos de organização devem ter o mesmo impacto: “Diferentes tipos de voluntariado podem ter diferentes implicações para o capital social.” (p. 305)
- PUTNAN (1996), discute a importância da horizontalidade das associações, das interações cara-a-cara e rejeita organizações maiores. (p. 305)
- Cita SKOCPOL (1996), que fala sobre federações voluntárias de “temperança feminina”. (p. 305)
- Cita MINKOFF (1997), que defende a importância das grandes organizações nacionais impessoais que facilitariam a ação coletiva e a formação de um “discurso público”. (p. 305)
- Nesse estudo foi utilizado a participação do eleitor como medida do nível de engajamento político da comunidade. Comunidades onde as pessoas não votam são também onde as pessoas nãose destacam em outras formas de participação política. (p. 306)
- Cita WOLFINGER e ROSENSTONE (1980, p. 1): “Para a maioria dos americanos o voto é a única forma de participação política.” (p. 306)
- Foram coletados dados de todas as cidades dos EUA acima de 50 mil habitantes. O período escolhido foi o final do século XIX, por ter riqueza de dados disponíveis sobre a vida associativa e política na América e porque houve um rápido crescimento das cidades americanas. (p. 306)
- As diferenças entre cidades desenvolvidas e subdesenvolvidas eram agudas. O período também apresenta oportunidade para examinar os espaços públicos de diversão e a vida social nas cidades. (p. 307)
- Número de participação de votantes foi comparado ao número de pessoas com direito ao voto. A discrepância entre as cidades, condados e regiões também pode ser uma influência nos resultados do comportamento eleitoral. (p. 308)
- Começa-se a estabelecer um modelo de base satisfatória para a análise usando o modelo de KAUFMAN. Usam outras variáveis para a análise, como etnia, pobreza e educação. Se esperava que imigrantes fossem menos propensos a votar do que os nativos, mas em alguns locais essa tendência foi contrariada. (p. 309)
- Passou-se a distinguir também, os efeitos dos diferentes tipos de associação. Na primeira categoria estão as organizações culturais, artísticas e literárias, onde os membros participam ativamente. Na segunda categoria, estão as sociedades beneficentes, sociedades de socorro mútuo e asilos, onde geralmente os membros apenas fazem doações e não participam de forma direta. (p. 312)
Na terceira categoria estão as congregações religiosas, onde participam pessoas interessadas. Na quarta categoria estão os clubes esportivos, onde alguns membros estão envolvidos e outros não. Já na quinta categoria estão os sindicatos, onde os membros não têm obrigações com o grupo. (p. 313)
- Também foram utilizados dados locais de interação informal (parques, salões públicos, teatros, bares, etc.). A participação de eleitores no final do século XIX não era como atualmente. (p. 314)
- Não parece ser o número de associações voluntárias em geral que determina o voto. Na verdade, os resultados foram mais promissores quando os diferentes tipos de associações voluntárias foram analisados separadamente. A mentalidade cívica não é gerada em sociedades fraternas, beneficentes e religiosas, por exemplo. É nas associações elitistas que encontramos esse efeito. (p. 316)
- As associações mais pessoais, que exigem mais participação dos membros são importantes fontes de ação política. Trabalhar em associações beneficentes ou congregações religiosas envolve grande compromisso com o bem público, um produto essencial na formação de capital social, mas essas atividades não produzem resultados positivos sobre a influência dos eleitores nas estatísticas. Não é o que o grupo faz, mas como ele faz que importa mais. (p. 318)
- O que faz afinal, a democracia funcionar? Que características de uma comunidade leva a uma maior participação dos cidadãos em assuntos políticos?
- Usando dados quantitativos das 39 maiores cidades dos EUA, encontramos mais apoio para a hipótese das associações voluntárias, do intercâmbio organizado, ou seja, das associações formais. (p. 318)
- Participar de uma associação forma exige certos sacrifícios para cumprir certas metas e o resultado social disso é um maior engajamento político. “O capital social, como todas as outras formas de capital, não sai barato.” (p. 320)

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